• A nostalgia do 25 de Novembro

A nostalgia do 25 de Novembro

 

Artigo de opinião no jornal O Regional (Link), por Jorge Cortez.

 

De repente, fomos surpreendidos com uma grande paixão novembrista.
Durante 49 anos nunca houve um gesto relevante para que os acontecimentos do 25 de Novembro de 1974 fossem celebrados oficialmente. Apesar de vários governos de maioria de direita, nunca tal desejo foi manifestado. Os tempos mudaram. Parece que agora a concorrência entre as “direitas” as obriga a ter bandeiras diferenciadoras. Afinal qual delas é a verdadeira? Poderemos perguntar.
No inicio da democracia o regime em construção teve diversas crises: a 8 de Julho de 1974, o golpe de Palma Carlos; a 28 de Setembro, a maioria silenciosa; a intentona spinolista no 11 de Março de 1975, e, o último golpe, em 25 de Novembro de 1975.
A consolidação da democracia foi um percurso muito difícil. No Verão de 1975 aconteceram centenas de atentados terroristas dos grupos da direita: houve assaltos, bombas, incêndios, mortos e feridos. Por todo o País, mais de uma centena de sedes do PCP foram assaltadas e incendiadas.
Na nossa cidade, a antiga sede do PCP (próxima da Igreja Matriz) também foi alvo dos terroristas de direita. Um grupo organizado, vindo de fora, apoiado por alguns locais, assaltou, roubou e incendiou aquele espaço. E embalados pelo “altruísmo” que os caracteriza, aproveitou e roubou a casa vizinha, onde, há décadas, vivia uma honrada família sanjoanense.
Nos dias anteriores a 25 de Novembro vários militares manifestaram discordância com algumas medidas tomadas pela hierarquia. A direita militar - dirigida por militares ligados a Spínola - aproveitou a confusão dentro do MFA para forçar o que havia sido falhado nos golpes anteriores. Os seus objectivos: inviabilizar a aprovação da Constituição, cujo processo corria na Assembleia Constituinte; ilegalizar o PCP e os sindicatos; e acabar, imediatamente, com a participação dos Capitães de Abril na implantação da democracia.
Durante o dia 25 de Novembro, os militares apoiantes do Grupo dos Nove, perceberam a situação e impuseram que a revolução do 25 de Abril seguisse o rumo que o MFA tinha traçado. Melo Antunes, líder politico daquele grupo, defensor da democracia socialista, vem esclarecer que o PCP era fundamental no processo democrático. Também o Presidente da República, Costa Gomes, apelou “às massas trabalhadoras” para não se deixarem envolver nas actividades que “só agravariam a situação para uma politica de extrema direita”.
Ao contrário do que pretendiam os protagonistas da direita militar e alguns civis, o PCP continuou na vida pública legal e a fazer parte do VI Governo Provisório. Os sindicatos não foram fechados. Os Capitães de Abril permaneceram organizados no Conselho da Revolução, como garante da democracia. A Assembleia Constituinte, continuou o seu caminho, elaborando a Constituição da República.
Alguns meses após o 25 de Novembro de 1975, em 2 de Abril de 1976, a Assembleia Constituinte aprovou, com os votos contra do CDS (6%) e os votos a favor de todas as outras forças politicas (94%), a Constituição da República Portuguesa. É uma das constituições mais progressistas da História, defensora da liberdade, da democracia e do socialismo.
A nova Constituição veio trazer um conjunto de direitos que no passado estavam vedados à maioria das pessoas. Ainda bem que o Grupo dos Nove honrou os seus compromissos. E ainda bem, que a esquerda consequente, onde se inclui o PCP, não se deixou cair na esparrela lançada pela direita. O confronto em que a direita apostou e a teia em que o esquerdismo se enredou, podiam ter levado o País à guerra civil.
Felizmente houve bom senso!